No rescaldo das legislativas e na semana em que se assinala o 71.º aniversário do assassinato de Catarina Eufémia, em 19 de maio de 1954, pelas forças do regime fascista, o silêncio paira no ar em Baleizão e poucos são os que querem falar sobre os resultados de domingo.
No café da Rua da Vinha, Joaquim Troncão espera que lhe vendam uma ‘raspadinha’ e, à agência Lusa, diz que não se surpreendeu com o empate a 143 votos entre a coligação liderada pelo PCP e o Chega na freguesia.
Assumindo-se do PCP, não esconde que, além das promessas de “mundos e fundos” e de que “vai fazer assim e assado” de André Ventura, líder do Chega, os resultados eleitorais refletem também algumas posições atuais do seu partido.
“Com aquilo que são os acontecimentos atuais, no caso da Ucrânia e da Rússia, ficou sem muitos votos. Eu votei no PCP, mas não era para ter votado olhando a isso. Voto porque sei o que é [a génese do partido], sei o que é que a minha gente sofreu na pele”, afirma.
Na Junta de Freguesia de Baleizão, Maria João Brissos, a atual presidente, eleita pela CDU, reconhece que, apesar do empate, os comunistas tiveram “um aumento na votação” face a 2024, quando conseguiram 135 votos. “Aquilo que notámos é que há um decréscimo enorme da parte do PS, até [com] uma alteração de votos [para outros partidos], e que há este fenómeno do Chega que é transversal a todo o país, portanto, não foi só em Baleizão, terra de Catarina [Eufémia], foi em todo o lado”, refere.
O descontentamento generalizado da população, fruto das “políticas dos últimos anos”, é uma possível justificação indicada por Maria João Brissos para os resultados eleitorais. E o “desconhecimento da história”, sobre os anos de ditadura em Portugal, é outro ponto para tentar compreender a “viragem” do eleitorado, sobretudo dos mais jovens.
“Um país sem passado não pode ter futuro, porque se eu tiver conhecimento do quão duro foi viver nessa altura, tenho a certeza de que não quero lá voltar, mas, se eu tiver esse desconhecimento, ando um bocadinho à deriva e posso pensar que talvez não tenha sido assim tão mau”, vinca a autarca.
A mesma opinião é partilhada por João Cascalheira, presidente da Casa do Povo de Baleizão e antigo candidato do PS à junta de freguesia nas últimas autárquicas, que refere que, na terra, “nem toda a gente agora é de extrema-direita”.
“As pessoas votam no Chega no sentido mais de protesto e de contestação do que por terem ideais de extrema-direita”, aponta, referindo que, “neste momento, há uma grande repulsa em relação aos partidos de esquerda por parte dos jovens”, que querem “culpar alguém pelo estado em que o país está”.
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