Nuno Mourinha: “O eterno retorno”

A opinião de Nuno Mourinha, arqueólogo e diretor do "Brados do Alentejo"

Caiu outro Governo. Não pela agonia do SNS, pelo preço da habitação ou pelos salários devorados pela inflação.

Suspeitas éticas, uma oposição sedenta de sangue, um país refém. Sempre a mesma peça, os mesmos espetadores, o mesmo palco (onde tantas vezes se representou). A Aliança Democrática durou 344 dias. Tal como na I República (45 governos em 16 anos), vive-se de crise em crise. A história repete-se, mas ninguém lê o roteiro.

Antes, derrubavam-se governos por ideologia. Agora? Caem por escândalos pessoais. O essencial mantém-se. Impostos que engordam lucros e esmagam trabalhadores, leis que alimentam a especulação imobiliária, fundos europeus enterrados em projetos-fantasma. O “cartel da banca” paga multas fictícias. A TAP é privatizada, a Fertagus entra em colapso, as parcerias público-privadas na saúde multiplicam-se. Nada disto derruba governos.

A ética é arma de arremesso. A incompetência? Política de Estado. A justiça revista cidadãos nas ruas, mas ignora ‘offshores’. A Autoridade da Concorrência aplica multas prescritas. O turismo substitui a indústria, as PME asfixiam. Nenhuma moção de censura surge por isto.

As eleições de 18 de maio são um ritual previsível. Muda-se o cenário, a tragédia prossegue. O problema não é a falta de ética. É aceitar um sistema que gira em falso. Enquanto isso, serviços públicos definham, a Europa ri-se, e os portugueses pagam. Em euros, em esperança, em dignidade.

A I República acabou em ditadura. A atual, mais subtil, caminha para a ditadura do imobilismo: um regime onde todos fingem lutar, mas ninguém ousa mudar o que realmente importa. Resta perguntar: até quando? Enquanto as urnas validarem este ciclo, a democracia será um espetáculo de sombras. Sem ética, sem solução, sem saída.

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BRUNO HORTA SOARES
É p'ra hoje ou p'ra amanhã

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