Obra de Afonso Cruz sobre deserto de Atacama conquista prémio literário

O escritor Afonso Cruz foi distinguido com o Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga 2025, atribuído ao livro “O que a Chama Iluminou”, publicado em 2024 pela Companhia das Letras. A decisão foi tomada por unanimidade por um júri constituído por Fernando Batista, Guilherme d’Oliveira Martins e Isabel Cristina Mateus.

Na fundamentação do júri, pode ler-se: “Partindo de uma viagem atribulada no Chile o autor reflete sobre a existência humana e sobre os mistérios do cosmos no deserto de Atacama, encarado como uma janela sobre o tempo e a evolução do mundo. Os dramas humanos de um país marcado pela violência levam-nos, porém, à esperança, através da chama que ilumina pelo que somos na nossa singularidade irrepetível.”

No livro, Afonso Cruz escreve sobre a eminência do fim, pessoal (também o seu) e colectivo, daí resultando esta novela-ensaio, reflexão terna e desapiedada sobre o fim das coisas: o fim do mundo, nas suas mais variadas versões; o deserto de Atacama, onde as mulheres continuam a revolver a areia em busca de partes do corpo dos maridos e dos filhos, vítimas da ditadura de Pinochet; o fim das tribos indígenas, das línguas; o planeta que se afunda; vidas trocadas por botões; o pó de onde todos viemos e a que todos regressaremos… Mas, numa nota de esperança e como uma vela na escuridão, lembra-nos, parafraseando Saint-Exupéry, que não é a cera que fica, mas o que a chama iluminou.

“Depois de ter sido perseguido pelos carabineros em Santiago, junto com um amigo, e de me terem queimado a cara com disparos de gás lacrimogéneo lançado a poucos metro” – recordou o escritor numa crónica publicada na revista “Visão” – “parti de Santiago para Punta Arenas, a maior cidade do sul do Chile, nos confins do mundo, onde passei uns dias mais tranquilos do que na capital: as manifestações eram bastantes mais comedidas”. Mas as peripécias da viagem não tinham acabado: “Quando ia visitar o museu de História Natural, de carro, batemos de frente contra um jipe que vinha em contramão (…) fui para um hospital público, levado de ambulância porque tinha múltiplas lacerações resultantes dos estilhaços dos vidros, no rosto, no crânio, num olho, nas orelhas, nas pálpebras”

Natural da Figueira da Foz, onde nasceu em 1971, Afonso Cruz é autor de uma vasta e multifacetada obra que ultrapassa os 40 títulos, abrangendo romance, conto, poesia, ensaio, teatro, literatura infantojuvenil e literatura de viagens. Os seus livros estão traduzidos em mais de 20 línguas e têm sido alvo de reconhecimento nacional e internacional.

Além de escritor, é ilustrador, fotógrafo, músico e cervejeiro amador. Trabalhou como cineasta durante mais de uma década. Foi distinguido com diversos prémios ao longo da sua carreira, entre os quais o Prémio da União Europeia para a Literatura, o Prémio Fernando Namora, o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, entre outros.

Esta foi a oitava edição do prémio instituído pela Associação Portuguesa de Escritores, com o patrocínio da Câmara Municipal de Braga. Destinado a obras de literatura de viagens escritas em português por autores nacionais e publicadas em 2024, o prémio tem o valor monetário de 12.500 euros. A cerimónia de entrega será anunciada em data posterior.

Fotografia | Paulo Sousa Coelho/D.R.

Partilhar artigo:

ASSINE AQUI A SUA REVISTA

Opinião

BRUNO HORTA SOARES
É p'ra hoje ou p'ra amanhã

PUBLICIDADE

© 2025 Alentejo Ilustrado. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.

Assinar revista

Apoie o jornalismo independente. Assine a Alentejo Ilustrado durante um ano, por 30,00 euros (IVA e portes incluídos)

Pesquisar artigo

Procurar