Paulo Freitas do Amaral: “A importância do Escoural”

A opinião de Paulo Freitas do Amaral, historiador

Há cerca de 50 mil anos, as primeiras espécies de hominídeos utilizaram a Gruta do Escoural como refúgio, marcando um dos mais antigos registos de presença humana em Portugal. Este abrigo natural proporcionava proteção e segurança, e há indícios de que, em determinado momento, a entrada da gruta terá sido deliberadamente bloqueada, sugerindo já um sentido de respeito ou de intenção simbólica por parte dos seus ocupantes.

Durante o Paleolítico Superior, cerca de 35 mil anos atrás, a gruta passou a ser um espaço sagrado para as comunidades de Homo sapiens que a habitaram. Nas suas paredes foram deixadas pinturas rupestres que representam animais como cavalos, veados e bois, criados com pigmentos naturais que resistem ao tempo. Estas imagens refletem uma complexa relação entre o homem e a natureza, onde o simbolismo e o ritual assumiam um papel central.

Com a chegada do Neolítico, aproximadamente há 7 mil anos, o Escoural transformou-se num local funerário. As comunidades usavam a gruta para sepultamentos coletivos, o que revela uma ligação profunda entre o espaço e as práticas sociais e espirituais da época. Este uso prolongado ao longo dos milénios demonstra que a gruta era mais do que um simples abrigo físico; era um local carregado de significado cultural.

A descoberta da Gruta do Escoural no século XX trouxe à luz um conjunto de vestígios arqueológicos fundamentais para o conhecimento da pré-história portuguesa. Além das pinturas, os arqueólogos encontraram artefactos e restos humanos que ilustram a evolução das práticas culturais e sociais ao longo de dezenas de milhares de anos.

Hoje, a Gruta do Escoural é reconhecida internacionalmente, integrando o conjunto de arte rupestre do arco atlântico. A sua importância transcende o território nacional, sendo um testemunho essencial das primeiras expressões artísticas e simbólicas da humanidade.

Apesar desta relevância histórica ímpar, as visitas à gruta são extremamente difíceis de marcar e o local não faz parte de nenhum roteiro turístico ou histórico oficial no Alentejo.

Esta situação junta-se à polémica e à desilusão causada pelas notícias que anunciaram a abertura do Cromeleque dos Almendres, quando na prática o caminho nunca esteve em condições de ser percorrido com segurança. Os autarcas que circulam entre Évora e Montemor-o-Novo deveriam estar conscientes de que têm ao seu cuidado alguns dos monumentos mais antigos de Portugal.

A ministra da Cultura também deveria dar-lhes a atenção que merecem, garantindo que estes patrimónios sejam valorizados e acessíveis para que possam cumprir o seu papel na memória e identidade nacional.

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