Quase 27 milhões de euros são canalizados para o distrito, no contexto da preparação da cidade como Capital Europeia da Cultura em 2027, ao mesmo tempo que alguns dos principais organismos culturais de Lisboa, como o Teatro Nacional de São Carlos ou o Museu Nacional de Arqueologia, sofrem cortes significativos.
Na área da requalificação e conservação de museus, monumentos e palácios públicos, e da construção do Arquivo Nacional do Som, com um total de 192,8 milhões de euros, a maior redistribuição favorece diretamente o Alentejo. Entram na nova lista de investimentos o Mosteiro de São Bento de Cástris (9,5 milhões de euros), o Convento de São José (7,5 milhões) e os Antigos Celeiros da EPAC (2,6 milhões), todos em Évora.
A candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027 inclui a reabilitação do Convento de São Bento de Cástris como uma das suas âncoras patrimoniais e culturais. Com uma dotação de 9,5 milhões de euros, a intervenção incidirá na recuperação estrutural do imóvel e na criação de novos espaços de acolhimento para residências artísticas, programação multidisciplinar e atividades com a comunidade. O objetivo é transformar o antigo convento num polo de criação contemporânea enraizado na paisagem histórica da cidade, promovendo a ligação entre património, cultura e sustentabilidade.
Fundado no século XIII, às portas de Évora, o Convento de São Bento de Cástris é um dos mais antigos mosteiros femininos cistercienses em Portugal. Ao longo de séculos, acolheu uma comunidade monástica dedicada à oração, ao ensino e à música sacra, tendo acumulado um notável espólio arquitetónico e artístico. Encerrado em 2005, o edifício encontrava-se em avançado estado de degradação.
No caso do Convento de São José, a intervenção visa adaptar o antigo edifício religioso a novas funções culturais, incluindo espaços para exposições, oficinas criativas e programação comunitária. A sua integração na rede de equipamentos da capital cultural tem como propósito reforçar a descentralização das atividades e criar um circuito de fruição artística em diferentes pontos do centro histórico da cidade.
Situado junto à Porta de Alconchel, o Convento de São José remonta ao século XVII e foi originalmente fundado como recolhimento feminino.
Finalmente, e também no contexto de Évora Capital Europeia da Cultura 2027, os Antigos Celeiros da EPAC, estão a ser transformados num polo cultural dedicado à dança e à criação artística contemporânea. Com um investimento de 2,6 milhões de euros provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a requalificação deste espaço visa adaptá-lo para acolher residências artísticas, oficinas criativas e eventos comunitários.
A estes investimentos junta-se ainda a intervenção prevista para o Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo, cuja verba é reduzida de 5,9 para 3,8 milhões de euros, na sequência de uma repartição da obra em duas fases, sendo a segunda dependente de outras fontes de financiamento.
Fora do Alentejo, apenas a Galeria do Paço Episcopal, da Universidade do Minho, em Braga, entra nesta nova vaga de projetos apoiados, com uma dotação de um milhão de euros.
Em contrapartida, a reprogramação do PRR dita cortes expressivos nalguns dos principais equipamentos culturais de Lisboa. O Museu Nacional de Arqueologia vê a sua verba reduzida em 10,1 milhões de euros, passando de 32,6 para 22,5 milhões, apesar de estar encerrado desde abril de 2022 e de ter obras profundas em curso. Também o Laboratório José de Figueiredo e o Laboratório de Arqueociências ficam de fora da nova lista de beneficiários, perdendo um total combinado superior a dois milhões de euros.
No que toca aos teatros nacionais, mantém-se o montante global de 48,3 milhões de euros, mas com alterações substanciais. O Teatro Nacional de São Carlos, encerrado desde o verão de 2024, perde 5,5 milhões, transferidos para o Teatro Nacional D. Maria II, que passa a dispor de 15,1 milhões. A decisão justifica-se com a “manifesta inviabilidade temporal” de realizar as obras previstas no São Carlos até junho de 2026, prazo-limite do PRR.
A redistribuição de verbas é explicada pelo Governo com as “profundas alterações de natureza económica e geopolítica” verificadas nos últimos anos, que provocaram uma subida dos custos e uma escassez crescente de mão de obra especializada no setor da conservação e restauro.
No total, o PRR afeta à Cultura 346 milhões de euros, incluindo 102,39 milhões destinados à transição digital e às redes culturais.
Fotografia | Gonçalo Figueiredo/”Alentejo Ilustrado”