Já por aqui argumentei acerca da correção da notícia da Alentejo Ilustrado sobre a tomada de posição política do PSD relativamente à taxa com que a Câmara de Évora se prepara para acolher turistas. Os poucos a quem o tema possa interessar poderão sempre ler ou reler.
Ler mais: “Alentejo Ilustrado repudia comunicado da Câmara de Évora”
Volto ao assunto, espero que pela última vez. Enquanto diretor da revista aguardei alguns dias por uma mensagem de correio eletrónico das Dras. Lurdes Nico e/ou Bárbara Tita – julgo saber que ainda vereadoras do PS na Câmara de Évora – no sentido de se demarcarem do comunicado infame e do vídeo patusco protagonizado pelo Dr. Pinto de Sá. Esperei obviamente em vão. Presumo, aliás, que até se possam rever na coisa.
Na eventualidade de não ser esse o caso, pergunto-me se haverá algum ator [tendo em conta o vídeo, o termo parece-me ajustado] político que acredite que o Dr. Pinto de Sá perdeu boa parte do dia de sábado, mobilizou os meios da Câmara e açulou as hostes por causa de uma notícia acerca da taxa turística que ele próprio se lembrou de criar. E que, dois dias depois, se esquecesse de avisar a revista da existência de uma conferência de imprensa.
Também já o escrevi: o comunicado, a pastuscada multimédia e a chinfrineira que se seguiu tiveram apenas um objetivo, o de tentar condicionar a linha editorial da Alentejo Ilustrado.
Em boa verdade, diga-se que mal o primeiro número da revista chegou às bancas, já o Dr. Pinto de Sá se mostrava indignado por termos escrito que a Capital Europeia da Cultura estava a correr “devagar” e que o modelo de gestão continuava por definir. Perceberam ao que vínhamos. E tinham razão. Viemos para fazer jornalismo.
Não querendo maçar as senhoras vereadoras, na eventualidade de estarem a perder tempo com a leitura deste artigo de opinião, ainda para mais quando há que preparar argumentos para viabilizar o quarto orçamento apresentado pelo Dr. Pinto de Sá, deixo apenas alguns exemplos do que é fazer jornalismo e que suscitaram reações, umas mais explícitas que outras:
“Câmara de Évora: Dos 14 mil euros em taxis a outros ajustes diretos”
Entrevista: “Promotor considera inconcebível atraso na urbanização do Moinho 2”
“A insustentável leveza do deixa andar na Capital da Cultura”
“João Cutileiro será nome de rua em Évora? Sim, não se sabe é quando”
“Câmara de Évora com dívidas de 100 mil euros a clubes desportivos”
“Oposição critica serviço de urbanismo da Câmara de Évora. Não funciona bem”
Concordarão eventualmente as senhoras vereadoras que são temas pertinentes, e que se não fosse a Alentejo Ilustrado não teriam tido qualquer visibilidade, em prejuízo dos munícipes que residem em Évora e da pluralidade do debate público.
Talvez, por aqui, se consiga entender a reação irada e o açular das hostes contra a revista. E, talvez por aqui, se consiga compreender a importância de se assumirem posições claras.
Bem sei que uma coisa era o velho PS do Dr. Soares, outra será o PS moderno das Dras. Lurdes Nico e Bárbara Tita, mas quando os “pais” da democracia inscreveram a liberdade de imprensa como direito constitucional fizeram-no precisamente para que esta pudesse fiscalizar o exercício dos poderes públicos.
É por isso que o jornalismo e a liberdade de imprensa constituem um pilar fundamental do Estado de Direito democrático. Nada nos move, obviamente, contra a Câmara de Évora, ou contra qualquer outra Câmara, instituição ou pessoa. Agora, não nos peçam para não fazer jornalismo.
Acresce que, lamentavelmente, nada disto é novo. Há uns bons 30 anos, no início da década de 90, ainda as senhoras vereadoras não se imaginavam no exercício destas funções, já eu acompanhava enquanto jornalista a vida política na região. Conto-lhes apenas um pequeno episódio: acompanhado do Dr. Abílio Fernandes, o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, fez uma visita a Évora. E eu logo me lembrei de o questionar sobre a existência de jardineiros a trabalhar para a Câmara a recibo verde. O alvoroço foi semelhante ao último, com a exceção de não ter tido direito a vídeo, nem a Facebook.